sábado, 29 de dezembro de 2007

Felicidade: um compromisso social



Dia desses, entre uma conversa na sala de professores, uma colega proferiu a seguinte frase: “Eu tenho cumpro meu compromisso social”. Falou com uma convicção que me fez, de cara, pensar: e o meu compromisso social, qual é ? De pronto, pensei na profissão que pretendo seguir, para a qual me preparo com entusiasmo há três anos: o magistério. Mas... será ? Sim... e não. Sim pelo fato, extremamente conhecido, de que lecionar é muito mais que transmitir conhecimentos e não pelo fato de que, pelo menos para mim, as coisas (principalmente os sentimentos) não são perceptíveis a olho nu, ou melhor, com o perdão do trocadilho, de “coração cru”. Sempre acreditei no mais que há atrás do que parece raso, na alegria do efêmero e na felicidade das pequenas coisas. Felicidade... foi só pensar nesta palavra que, de imediato, descobri meu compromisso social: ser feliz.
Egoísta ? Não ... não depois de pensar nas seguintes questões: quantas pessoas neste mundo não têm aquilo que pra nós é cotidiano ? Família, estrutura financeira, o emprego do qual tanto reclamamos, etc. Quantas pessoas sequer sonham com a possibilidade de conquistar aquilo que nós, com suor, esforço ou, até mesmo, de mão beijada, conquistamos ? Definitivamente, somos beneficiados e, uma vez que o porquê deste benefício não nos é explicitado, temos a opção de aproveitá-lo ou anulá-lo, ficando presos a objetivos que, estando muitas vezes fora de nossa alçada, tapeiam aquilo que de fato é verdadeiro. A minha opção, obviamente, é a primeira.
Nesta época, reta final do ano, a tendência é sempre fazer um balanço do que passou. Comigo a coisa não foi diferente, fruto do pensamento objetivo que já está internalizado nos nossos atos, a primeira coisa que pensei foram em fatos: o que fiz, o que conquistei, o quanto cresci. Daí, fiz uma lista mental do que tinha feito e, para a minha surpresa, embora extensa, aquela era a lista mais vazia que já tinha visto. Fiz, conquistei, cresci.... mas o mais importante foi o caminho que percorri para tal e, principalmente, as pessoas que estavam ao meu lado, meus amigos. Isso foi possível no dia-a-dia, numa conversa em meio a um dia estressante, no trivial... coisa que nenhuma viagem, nenhum título e nenhuma conquista compensa. A felicidade, que eu tanto busco, está sempre do meu lado: são vocês, meus amigos, e a forma como levamos nossas vidas que, não por acaso, foram entrelaçadas. Minha mensagem, neste finalzinho de 2007, é simples: SEJAM FELIZES ! Coloquem os óculos da felicidade e vejam com alegria todos os momentos da vida de vocês. Embora pareçam banais, são estes momentos que, no fim, ficarão. Lembrem-se do nosso papel social aqui neste mundo e, também, transmitam a felicidade. Com certeza, as coisas são melhores sucedidas quando realizadas com felicidade e otimismo !
Muitíssimo importante: Obrigada, amigos, obrigada por tudo e por todos os momentos em que vocês se fizeram presentes. Sem vocês, eu não seria metade do que sou. Nem sentiria metade do que estou sentindo. Um belíssimo 2008 para todos vocês e lembrem-se: SEJAM FELIZES!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Momentos de 2007



Antes que 2007 se vá, não poderia deixar de agradecer as seguintes pessoas:


Curso de Letras, URCAMP: cada momento, inclusive as indiadas e os stresses, vividos ao longo deste período, serão pra sempre lembrados. Cada uma de vocês me ensinou uma coisa. Logo, já fazem parte de mim !


Lidi: nós sobrevivemos às aulas de direção da Bruna. \o/\o/ Muita tietagem, indiadas e música prá nós!


Bruna, depois de muitas empacadas, estamos aí !!! Indiadas mil prá nós, sempre!!!!!
Nayara, minha amiga poeta, que as palavras sigam sempre nos aproximando...sempre!
Xiitas e não-xiitas... alguns de vocês, embora tenham entrado há pouco na minha vida, estiveram presentes em um momento extremamente especial prá mim. Tenho certeza que nossa amizade está recém no princípio e que muitas histórias ainda serão escritas por nós. Muita felicidade e muita Maria Rita prá nós !!!!! \o/\o/\o/
Por fim, Márcia.....Márcia....... palavras não descrevem a tua importância na minha vida de forma exata: elas sempre darão um sentido limitado daquilo que, para mim, não tem fim. Obrigada por tudo, és a personificação de muitas das coisas boas que me aconteceram. Te amo !

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Retrospectiva 2007: a matéria mais emocionante

Confessionário Maria Rita
* por Armando Antenore
Maria Rita com a caixa de maquiagem a que costuma recorrer antes dos shows. Apreço pelas gentilezas masculinas.


A MÚSICA lhe pertence há tanto tempo - como o mar à sereia, se existissem sereias - que já não sabe exatamente quando cantou pela primeira vez. Mas se recorda bem de que, jovenzinha, arrancava lágrimas das platéias domésticas mal iniciava um lalaiá qualquer. Outros, diante de reações similares, exultariam. Ela, não. Ficava furiosíssima. - Certa noite, em Miami, visitava uns amigos com o pai, o compositor e arranjador César Camargo Mariano. De repente, apareceu um violão (violões sempre apareciam do nada naquela época). "Canta, Maria Rita, canta", pediram em coro. César, que dedilhava o instrumento, tratou logo de dar a deixa, e a garota cantou. Pronto: cinco ou seis pessoas abriram o berreiro. Maria Rita, com apenas 18 anos, não viu a menor graça. Fechou a cara e saiu de lá corroída pela dúvida que teimava em assombrá-la e que só recentemente a abandonou: "Estão chorando por que de fato os emociono ou por que se lembram de minha mãe?".

AINDA HOJE, mantém cautelosa distância dos discos que Elis Regina lançou. Dói ouvi-los. Se os escuta, avista de novo o carro que a Pimentinha gostava de dirigir e revive mais uma vez o curto período em que moraram juntas na praia da Joatinga. Tinha 4 anos quando a mãe morreu. Pouca idade para evocar tão nitidamente o carro de incontáveis passeios e a praia carioca de areia muito branca. Entretanto, preserva-os incólumes na memória, à semelhança de alguns outros lugares, objetos e episódios que dividiu com a intérprete. Quais? Não os revela por uma questão de justiça. Elis já legou, para o país inteiro, milhares de recordações públicas: fotos, entrevistas, músicas, registros em DVD. À fi lha caçula, restaram meia dúzia de situações íntimas. É justo que não as compartilhe com ninguém. - O único LP da cantora que se permitiu explorar realmente chama-se Elis, Essa Mulher. Chegou às lojas em julho de 1979. Vinte e dois meses antes, Maria Rita nascera. Seduzida pelo título confessional do álbum, devorou as dez faixas na esperança de descobrir o que a mãe sentia durante as gravações. Desta vez, estranhamente, não se preocupou com as dores e os sobressaltos que a aventura pudesse lhe trazer. Retornou da investigação convicta de que, naquela fase, Elis se encontrava madura, forte e serena. "Essa menina, essa mulher, essa senhora/ Em que esbarro toda hora no espelho casual/ É feita de sombra e tanta luz/ De tanta lama e tanta cruz/ Que acha tudo natural", segredava a artista na canção de Joyce e Ana Terra que inspirou o nome do disco.

CRIANÇA, Maria Rita se espantou profundamente quando lhe mostraram o clipe de Thriller. Não teve medo da gargalhada sombria que encerra o vídeo de 1982 ou dos zumbis que brotam das sepulturas enquanto Michael Jackson dança. Foram os movimentos geométricos e hipnóticos do cantor que a impressionaram: "Uau! Megapowersuperplus!". Tornou-se fã do pop star e não abdicou da admiração mesmo depois de vê-lo sucumbir às próprias maluquices. Em 2001, por exemplo, ouviu Butterfl ies, do fracassado álbum Invincible, e pirou: "A letra é extensa demais. Não devia encaixar na música, mas encaixa. Como o desgraçado consegue?". - Relaciona o declínio de Michael à pior das infinitas tentações que atormentam os famosos: a onipotência. Pobre do mortal que se imagina dono do mundo. Está à beira da tragédia. Ela garante que jamais alimentou delírios do gênero. Ligar para a casa de alguém após as 10 da noite, furar a fi la do cinema, perambular por festas bacanas sem convite, entrar de chinelo e camiseta rasgada num restaurante de luxo? Não, nem às estrelas concede tamanhas indelicadezas.

"PERCA O JUÍZO, Maria Rita!" Na adolescência, saindo para a balada, costumava escutar o conselho divertido da madrasta. "Volte tarde, beba muito, se jogue." Perca o juízo. Ainda assim, Maria Rita não o perdia. Foi sempre "a certinha", "a caxias", "a caretona". Arrumava o quarto todo domingo e lavava os pratos do almoço familiar numa ótima. Fez duas faculdades simultaneamente, ambas em Nova York: Comunicação Social e Estudos Latino-americanos. Se os amigos enchessem a cara ou fumassem às escondidas, pensava: "Que babacas!". Não ficava com mais de um garoto na mesma noite. Nunca comparou a madrasta às bruxas de Walt Disney. Pelo contrário: gostava tanto de Flávia que a apelidou de "boadrasta". - Raras vezes se sentiu tão feliz quanto agora. Completou 30 anos em setembro e não enfrentou nenhuma crise. Angústias profissionais, desconfortos físicos, nada a infernizou. Fácil explicar: já nasceu com 30 anos. Estava apenas aguardando que o tempo de fora alcançasse o de dentro.

EM 2003, logo que engravidou de Antonio (seu filho com o cineasta Marcus Baldini, de quem se separou), adquiriu uma inusitada fobia de automóveis, ônibus e motos. O fantasma surgiu de mansinho durante os primeiros meses de gestação e acabou virando um suplício. Mal se surpreendia num congestionamento, a cantora - que até então não guiava - caía em desespero, sem identificar direito o motivo. Só ousava trafegar por ruas calmas. Como sempre lhe disseram que o melhor remédio contra o medo é a coragem, decidiu ingressar numa auto-escola e tirar carta. Hoje dirige tranqüilamente. - Quando passa um dia longe de Antonio, mergulha num vazio imensurável. Desequilibra-se, perde o norte. Agora compreende por que a relação entre mãe e fi lho é capaz de substituir todas as outras. Sabe que nem o pai, nem os irmãos, nem um marido teriam o poder de fazê-la abandonar o palco. Mas se o Antonio quisesse... - Com 16 anos, jogou futebol no colégio. Zagueira, espelhava-se em Ronaldão, do São Paulo, e ainda não manifestava por completo a faceta "mulherzinha" que exibe atualmente. Adora brincos e pulseiras douradas, entende de maquiagem e aprecia galanteios masculinos. Homem que é homem paga a conta, puxa a cadeira para as moças e não permite que elas caminhem pelo lado de fora da calçada. Maria Rita, aliás, pretende transformar Antonio num gentleman, ensinando-lhe os mistérios do cavalheirismo. Ai do moleque se não aprender...


Fonte: http://bravonline.abril.com.br/indices/primeirafila/primeirafilamateria_261779.shtml?page=2

Retrospectiva 2007: os melhores CDs





Já diz o ditado, tudo o que é bom merece ser mostrado. O que é perfeito, então, merece ser pintado de ouro ! Os amigos que me conhecem há mais tempo, já sabem da minha paixão por música (leia-se Maria Rita). Nada melhor, então, para dar início à sessão retrô, do que listar os melhores CDs lançados neste ano, 2007, seguindo a listagem feita por Nelson Motta, escritor e produtor musical.

Sim, Samba Meu é o primeiro da lista.

1 - "SAMBA MEU" - MARIA RITA
2 - "SóNós" - Paula Toller
3 - "Erasmo Carlos convida 2" - Erasmo Carlos
4 - "Onde Brilhem os Olhos Meus" - Fernanda Takai
5 - "Matizes" - Djavan 6 - "Duos" - Lanny Gordin & Convidados
7 - "Belo e Estranho Dia pra se Ter Alegria" - Roberta Sá
8 - "The Shine of Dried Electric Leaves" - Cibelle
9 - "Call Me Irresponsible" - Michel Bublé
10 - "Versions" - Mark Ronson

sábado, 22 de dezembro de 2007

Enfim, é Natal !!!!



Há algum tempo atrás, caminhando com uma amiga, disse a seguinte frase: "Não gosto do Natal." Ela, intrigada, perguntou o porquê ... em meio aos meus argumentos, acabei concluindo que estava passando por mais uma crise de T.P.M. No entanto, hoje sei, o problema era outro: era de expressão. Eu havia me expressado mal, pois do que não gostava era do significado que as pessoas, hoje em dia, tinham do Natal: comprar, gastar, desperdiçar.... Sim, eu sei que os presentes simbolizam o carinho, amizade, amor... e é aí que está o problema maior: o presente no lugar do carinho (que simboliza o amor) e o carinho, como fica ? No vácuo ... na materialização do presente comercial que provavelmente será esquecido semana que vem.



Claro é que nem todo mundo tem estes conceitos de Natal (generalizações são sempre perigosas) e que eu muito feliz fiquei com os presentes que Papai Noel deixou embaixo da árvore. Meu intuito, por isso, não é criticar o lucro do comércio natalino, tampouco dar uma de crítica mala. O que quero dizer e deixa claro é: dêem carinho, amor e amizade nesta Data que, em essência, simboliza o nascimento Daquele que mais nos amou.



Pensei em colocar alguma mensagem aqui e, até me deparar com o texto abaixo, era isso que eu ia fazer. O texto ("Os loucos e as crianças sempre dizem a verdade") é um conto e foi escrito pela Gabriela de quatro anos atrás, uma Gabriela anos-luz atrás desta que vos fala (ou na frente).

Fica, então, minha mensagem, queridos amigos! Dêem abraços, carinho e muitos "eu te amos" neste Natal ! Palavras são mais simples e, ao mesmo tempo, mais notáveis que os mais lindos dos presentes ... palavras de amor, então: são tudo ! Dêem-nas, muito!

Ah, e um FELIZ NATAL !

Os loucos e as crianças sempre dizem a verdade

Ele era sério , introspectivo e casmurro . Sua estatura mediana , seu semblante amarrado e a voz grave , faziam-no parecer uma criatura recém saída de uma novela de Balzac , um daqueles solteirões , sem voz ativa e dominado pela irmã mais velha , uma maquiavélica senhorita virgem no auge dos seus cinqüenta anos .
Seu Frederico era visto assim : um senhor estranho , que cumprimentava com a cabeça e com monossílabos . Nada o fazia sorrir , ao menos seus vizinhos nunca tinham visto tal proeza ao longo dos anos que o conheciam , ou melhor dizendo , ao longo dos anos em que viam sua figura na rua , pois este era o máximo de convivência que ele travava com as pessoas .
As crianças viam nele um prato cheio para as suas pilhérias : inventavam-lhe apelidos , jogavam-lhe pedrinhas , assoviavam enlouquecidas . Mas nem isso o tirava do quase estado de torpor com que se entregava em suas longas , lentas e silenciosas caminhadas pela rua . Os mais prestativos e curiosos muitas vezes tentaram se aproximar do velho , mas desistiam logo:‘ Seu Frederico era meio fraco das idéias ’.
Como se alguém pudesse ler o que se esconde atrás de um olhar ! Como se pelos hábitos de alguém , pudéssemos enxergar sua alma e suas atitudes superficiais pudessem mostrar sua índole ! Tolice achar que podemos julgar , bobagem tentar entender : a vida não tem explicação . Assim , Seu Frederico pensava . Pensava , pois as palavras foram-lhe morrendo desde a morte da esposa , e as poucas que conseguiam sair , somente as paredes do velho sobrado ouviam .
Aos 78 anos , Seu Frederico achava que já vivera muito . A mulher , Lia , que com ele viera da Alemanha , morrera há mais de dez anos . Filhos , nunca tiveram , não por falta de vontade , pois o que o jovem casal mais sonhava era encher a casa de crianças . Mas o bom Deus não quis assim , e com o tempo a idéia e a felicidade que um encontrava no outro fizeram-lhes esquecer o antigo sonho . Lia ... quanta saudades sentia da única mulher que amou neste mundo ! Lembrava com o mais terno carinho de cada um dos Natais que passaram juntos : comiam maças assadas como se lá fora estivesse caindo neve , trocavam presentes como se fossem duas crianças . Como foram felizes ! Este seria o décimo primeiro natal que passaria sozinho , e no entanto o bom Deus não se apiedara do seu sofrimento , deixando-o sofrer mais em um lugar de onde já deveria ter ido embora há muito . Se Deus não lhe ouvira durante todos estes anos , haveria de ouvir na véspera do Natal ? Não , claro que não . No Natal Deus está por demais ocupado .
Então , o que lhe restava fazer ? Esperar . Esperar pelo fim do seu martírio , esperar pelo descanso eterno , esperar por Lia . Enquanto isso , enfeitaria a casa , faria uma ceia para dois , abriria os presentes que sempre comprava para depois irem direto para o armário... mas os compraria .
Entregou-se a tal tarefa e pode-se dizer que por um momento achou achou-se contente . Será que minha Lia está me vendo ? Pensava antes de colocar cada guirlanda ou antes de pendurar um risonho Papai Noel .
No momento em que colocava o último enfeite - uma guirlanda lindíssima que Lia tanto gostava - a campainha da porta tocou . Emburrado ,porque alguém interferira suas atividades foi abrir a porta para um menino sorridente .
- Bom Dia ! O senhor poderia me dar algo de comer ? Sabe como é ...
- Só um momento ! – interrompeu bruscamente , antes de girar e ir em direção da cozinha .
No momento em que Seu Frederico deu as costas , o menino adentrou na sala . Na verdade nunca tinha feito aquilo - entrar sem pedir licença - mas esta casa era tão bonita ! As crianças que aqui moram deveriam ser muito felizes , pensava curioso .
- Está aq ... - Quem mandou você entrar ?
- Elas devem ser muito felizes ...
- Elas quem menino :?
- As crianças , seus filhos ou será que são seus netos ? Nossa ! Nunca vi casa mais bonita ! Lá na minha não tem nada disso , minha mãe é pobre e meu pai morreu , por isso o Papai Noel não vai lá . Mas aqui com certeza ele deixa um monte de presentes , não é ?
- Ahm ... ?
- O Papai Noel vem aqui ?
- Não .
- Não ? Como ? E seus filhos ?
- Não tenho filhos . E olha ...
- Não tem filhos , netos então ? - seguiu metralhando o pequeno .
- Não também – respondeu meio perplexo por estar dando atenção àquele garoto .
- O senhor mora sozinho ?Não tem mulher ?
- Sou viúvo .
- E como o senhor festeja ? - Festeja o que ?
- O Natal , o que mais poderia ser ?
- Eu não festejo .
- Por que ? Se tem uma casa , tem enfeites e tem comida ?
- Por que o Natal faz com que eu lembre de pessoas que já morreram e isso me deixa triste ...
- Só por isso ?
- Como assim moleque ? O que você sabe da vida ? Eu sou triste e conto com ansiedade o dia em que morrerei !
- Não diga que todas as pessoas que o senhor conheceu morreram ?
- Morreram as que eu amei , - a que eu amei , pensou para si mesmo .
- E não dá pra tentar de novo ?- Tentar o que menino ?
- Tentar amar , ora essa ! Assim , o senhor amaria quem estivesse vivo e não ficaria mais só , e desejaria viver !
- Não há mais tempo ...
- Claro que há ! E outra , as pessoas que o senhor amava gostariam de estar vivas ?
- Mas é claro !
- Então porque ?
- Por que o quê ?
- Porque o senhor quer morrer ? Não é melhor viver , viver por quem morreu e não pode aproveitar as coisas boas da vida como comer doces e ganhar presentes ? Um suave silêncio foi a resposta desta pergunta : não se sabia quem era o velho quem era o menino . Por motivos que nem mesmo Seu Frederico sabia , convidou o menino e a mãe para logo mais a noite virem até sua casa comer a ceia de Natal . Um sorriso radiante de parte do menino valeu mais do que um sim , e o velho senhor já os esperava .
Com uma alegria que há muito não sentia , sorriu : os loucos e as crianças sempre dizem a verdade , sempre .

Gabriela Ferrony, dezembro de 2003

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Samba NOSSO !


"Esqueça a garota de óculos quadrados, cabelo curto e jeito contido dos primeiros espetáculos de Maria Rita. Na noite de sexta-feira, o que se viu no palco do Teatro do Bourbon Country foi uma diva."

Nunca concordei tanto com algo publicado em um jornal quanto com este parágrafo do texto de Gabriel Brust, a respeito dos shows que Maria Rita fez na capital nos dias 14 e 15 de dezembro.

De fato, a Maria Rita que vimos no palco superou todas as expectativas, contagiando-nos com um Samba que, de cara, passou a ser nosso. Através de um repertório lindíssimo, que incluía músicas de seus trabalhos anteriores, Maria Rita enCANTOU seu público, que incluía (e isso foi, também, um lindo fator!) as mais variadas idades: dos cinco aos oitenta, ninguém ficou parado!

Eu, particularmente, assisti ao show extasiada ! Equilibrava-me entre uma euforia inexplicável e uma emoção imensa, aumentada cada vez que ela voltava seu olhar para nós (eu e amigos) e, junto conosco, cantava....... não só com a voz (uma das mais lindas do Brasil), mas com o corpo e com a alma que ali, nos entregava.

Aos primeiros acordes de "Samba Meu" foi difícil conter a emoção. Antes, no entanto, que uma lágrima ameaçasse cair, quem deu o recado foi Gonzaguinha e, por intermédio de "O homem falou" fomos levados à extrema alegria: sim, estávamos ali... e éramos muito, muitíssimo felizes!

Daí vieram as demais canções, cada qual com sua particularidade. Os arranjos, renovados, demonstraram que ela, nossa Diva, não estava ali por acaso. Harmonia perfeita entre voz, alma e melodia..... sem falar na harmonia público- cantora, sobre o qual cabe fazer as mais belas considerações.

Particularmente, foram vários os momentos do show que mais me emocionaram: vê-la interpretando "Santa Chuva" e "Muito Pouco" de uma forma cada vez mais brilhante, ter sido ouvida quando disse que nós não estávamos sentadas, vê-la cantando "A Festa" bem ali, diante de mim, como se me olhando nos olhos, são coisas que jamais esquecerei. Da mesma maneira, não esquecerei a declaração de amor ditada entre gritos e palmas, ocorrida no momento em que Maria Rita abriu espaço para a sua primeira fala.

Após cantar "Menininha do Portão", Maria Rita confessa ter colocado um espaço para fala ali, naquele local, mas que não sabia o que ia falar. Dois segundos depois, surge um Eu te amo! da platéia, um não, dois! (um deles proferidos pela Ju!). Meio segundo depois, aproveitando um silêncio bastante pertinente, eu e Sara (uma das amigas que estavam comigo no show) gritamos, em coro: PORTO ALEGRE TE AMA !
Silêncio.


E este silêncio, de um segundo, não mais!, foi seguido de uma pergunta da Santa: _ Porto Alegre me ama ????

Respondendo à pergunta, um teatro inteiro aplaudiu e gritou ! Foi lindo, muito mais do que lindo! Para ser mais exata, algo entre o absurdo e o inenarrável !

A partir dessa demonstração, Maria Rita já tinha sobre o que falar e falou de sua ligação com nosso estado. Chamando Elis de mamãe, agradeceu aos gaúchos, o povo apaixonado, intenso, que reconhecia e tinha muito carinho pelo "legado" deixado pela sua família.

E o Samba "Nosso" continuou .... até o momento em que o Bis acabou e saímos todos, extasiados, ainda sem bem digerir (entender) toda a magia que aquela noite trouxe. A noite maravilhosa!, como bem disse a canção.
OBS: A imagem é da câmera da Verônica !