segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Críticas ? Melhor não tê-las ...

Criticamos o governo. Criticamos o vizinho. Criticamos as músicas do momento. Damos nossa opinião acerca da novela, comentamos o trabalho daquele artista e a conduta de determinado BBB (pois ela nos é jogada garganta abaixo). Falamos, opinamos, criticamos... mas será que sabemos lidar quando estas falas, opiniões e críticas voltam-se para nós ? Se a lei natural é correta (tudo o que vai, volta) deveríamos saber que quem critica, pode ser criticado. Deveríamos ... mais um futuro do pretérito na nossa lista de imperfeições.


Esta semana, em uma comunidade virtual, percebi o quão estamos (eu, obviamente, me incluo na afirmação) despreparados para lidar com uma crítica. No caso em questão, uma crítica construtiva a respeito de uma "coisa" que admirávamos, tornou-se alvo de diversas outras críticas, algumas vezes descabidas até mesmo de argumentação. É triste, mas as coisas estão em um ponto onde se eu gosto, todos precisam gostar. Se eu não concordo, ninguém mais pode concordar.


Do virtual para o real, vi que o episódio é mais comum do que eu pensava e que uma das maiores causas das confusões que estamos carecas de presenciar advém desta espécie de arrogância que não nos permite falhar e, muito menos, ser criticados por tal. Daí eu me pergunto: se uma crítica, quando bem feita, é um impulso para o crescimento, como avançar sem elas ? Sem falar que, para criticar, precisamos conhecer. Caso contrário, melhor nem abrir a boca.


Conhecer, para depois criticar e aceitar o que nos é dito para, em cima disso, melhorar. Por mais complexas que as coisas sejam, na maioria das vezes pequenas ações podem mudá-las. Críticas ? Melhor não tê-las ... mas se não as temos, como sabê-las ?

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A (des) presença : 26 anos "sem" Elis



Guimarães Rosa, em seu magistral Grande Sertão:Veredas, deu-nos um recado (dentre inúmeros!) que considero essencial: "O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas." Hoje, um dia antes de completarmos os 26 anos da ausência física de Elis Regina Carvalho da Costa entre nós, esta frase torna-se ainda mais verídica: Elis encantou-se e deixou-nos como legado uma gama de canções inesquecíveis, além de uma extrema saudade, avivada a cada audição.


Nunca entendi a morte de Elis e a estupidez como esta se deu. Há quem julgue ter ocorrido naquela noite uma assassinato, o que seria mais confortável do que "a verdade" convencionalmente estabelecida: perdemos Elis por remédios, cocaína e álcool. Perdemos Elis para a fragilidade da vida. A mesma Elis que nos ajuda a ser forte, que nos motiva a ir a luta, que canta a nossa vida.... perdeu-se em seus mistérios, nas lacunas de suas dores.

Elis se foi... mas não nos deixou. Seu lugar (INSUBSTITUÍVEL !!!), permanece intacto nos nossos corações e assim sempre será: enquanto a música houver, Elis reinará ! Dona de uma personalidade forte, há muitas opiniões a respeito de quem, de fato, foi Elis Regina. Como toda a opinião, por mais sincera que seja, é tendenciosa, prefiro procurar Elis em suas músicas: e nelas "Essa Mulher" se mostra de forma cada vez mais exuberante. Por isso encerro este texto com uma homenagem, a que (a meu ver) é a mais bela: um legado seu (sua filha) canta a música que mais lhe descreve.

Elis, Elis ... que tua (des) presença seja eterna e que mais pessoas possam dispor de tua voz e de toda a dose de emoção que nela coloca (va) s.

Depois de ti, nada foi (nem será) como antes.






sábado, 5 de janeiro de 2008

Gentileza

Dois momentos e uma canção fizeram-me escrever este texto antes mesmo que a primeira palavra fosse aqui escrita. Seqüência de palavras que, sabe-se lá o motivo, só foram por mim ordenadas, uma vez que já existiam, perdidas no tempo e no espaço das ações humanas. Sobre os momentos, falarei mais tarde. Agora, a canção.... precisa (merece!) aqui ser colocada, ou, melhor: louvada. Trata-se da música Gentileza, interpretada por Marisa Monte.

Nela, uma voz incrível nos faz tomar conhecimento de que palavras de Gentileza escritas em um muro foram apagadas pela tinta. Faz referência a José Datrino, homem popularmente conhecido por profeta Gentileza que, no Rio de Janeiro, abriu mão dos seus bens materiais para escrever palavras de amor e bondade nos muros da cidade. (Procurar sobre a vida dele é uma ótima dica!) Nós, que "passamos apressados pelas ruas da cidade" ficamos sem poder ler as palavras de Gentileza. Complementando, vem a pergunta: "agora eu pergunto, a você no mundo, se é mais inteligente o livro ou a sabedoria ?" Enquanto pensamos nas respostas, melhor eu ir explicando os momentos...

Primeiro momento: saída de um banco no primeiro dia útil do ano, um calor insuportável e um número elevado de pessoas circulando nas ruas. Uma moça, de aproximadamente 15 anos, esbarra na outra e, ao invés de pedir perdão, indaga:"Não olha por onde anda não sua $%%###%%% ?" A outra moça, de quem eu estava começando a ficar com dó, não deixou por menos e retrucou a provocação. Saí de perto da cena, mas suponho que as duas estejam trocando xingamentos até agora....

Segundo momento:no próprio banco. Como todo o banco no primeiro dia útil do ano, este estava cheio. A sorte é que havia cadeiras nesta agência, onde podíamos esperar nossa vez sentados. Pois bem, assim estávamos, cerca de trinta pessoas, quando uma senhora bastante idosa entrou na agência com muita dificuldade, sendo carregada por sua neta. De pronto, todas as pessoas que estavam ali na volta prontificaram-se, como que automaticamente, a ajudar. O que foi isso ? Gentileza.... aquilo que fez falta na primeira situação, aquilo que precisa estar sempre... aquilo que Marisa traz em sua canção.

Ser gentil, educada, custa muito pouco perto do bem que faz. Bem muitas vezes esquecido mas que, como diz a canção, merecemos receber/dar. Claro, a música é uma metáfora, uma das mais belas metáforas da nossa MPB. No entanto, e esse é um dos sentidos das canções, não custa refletir e, no caso, mudar... transformar nossos atos e, através da gentileza, descobrir que a vida, bem como as nossas ações, são intrinsecamente ligados ao outro. O outro que, no fundo, está em nós.


PS: A música, para quem se interessar em baixar, está disponível em:

http://www.4shared.com/file/13953860/9ab1f1e/10_-_Gentileza.html?dirPwdVerified=60182a53